Ensaio Sobre A Perda

(foto: India Lua Selvagem)

Pesam-te os minutos nas mãos
Que passas sem ela
Afirmas sem dúvida ou receio

Contas as arestas das paredes
Do quarto em que te encontras
Pensas nela
E suspiras como que aliviada

Deambulas pela calçada
Vais formando círculos que te confundem
Enquanto esperas por ela
E o dia é claro, sem nuvem que espreite

Sentes o sol a queimar-te a pele
E recordas-te dela
Do calor e do suor que trocavam
Em redor daquela chama que parecia não ter fim

Entras e sais dos sítios
Que reclamas como teus e dela
Procurando vestígios do seu cheiro
Porque a saudade aperta-te o peito

Entrelaças as mãos
Para relembrares o toque dela
E de como a sua mão se fundia na tua pele
Transpiravas
Perdias os sentidos

Percorres músicas, fotografias, filmes
Queres encontrar a sua figura
Nas letras que ouves, nas legendas que lês
No espaço mais recolhido da imagem para onde nunca ninguém olha

Pensaste em abrir o peito ao meio
Para a veres
Para a retirares de dentro de ti

Por segundos pensas em apagar da memória
Todas as letras que formam o seu nome
Vamos, começa pelo ‘A’ e segue até extinguires
Vogais e consoantes

Mas paras a meio
Já te incham os olhos
Arrastas o que sobra do teu corpo
O pouco que não foi consumido pela sua ferocidade
Cais na cama exausta
Esperando que os narcóticos entrem no teu sistema
E terminem momentaneamente a dor